segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Visões de um "escrevedoreco" - Parte 1

Luz, produtora de sombra. Como todo ato cria também malgrado. E se permitíssemos viver dessa sombra por um momento, e não simplesmente negá-la? E se conseguíssemos enxergar algo de bom na boca ou no chefe do Inferno? Para mim, soa ridícula a idéia maniqueísta de Céu e Inferno pelo simples fato de que ninguém é tão bom ou mau o suficiente para se salvar ou penar totalmente. Caso houvesse um meio-termo, que ainda seria idealizado, nesse lugar gostaria de me encontrar, apesar de ainda preferir a linda idéia da reencarnação. O meio-termo, que não ouso impor-lhe nome, (e que dificilmente me agrada em outros casos), permitir-nos-ia satisfazer com o bem, e aprender com o erro, com o sofrimento e por que não com o pecado!? Se escondes tua sombra, talvez percas o melhor da diversão e da sabedoria:

Oh sombra,
Encantaste-me tardiamente,
Agora quero abusar-te.
Errante que sou,
Difícil me faz o equilíbrio.

Nos diabos,
Autoridade, vontade,
Firmeza, magia,
No inferno do cotidiano,
Aprendizado.

Como toda erva, o obscuro e o pecado têm seu lado B. Há tempos atrás, o “mau” me parecia meramente mal. Agora arrisco tornar-me refém do obscuro. Daí a necessidade do equilíbrio. O obscuro se evidenciado totalmente perde sua magia e benefícios e existem coisas que realmente devem ser escondidas:

“Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio...” (Dostoiévski)

Quando digo do obscuro e da sombra pessoal não significa necessariamente nosso lado tido como prejudicial, maléfico, mas tudo aquilo que parece intrínseco e inevitável, mas que é mascarado, inutilizado, reprimido por nós mesmos ao invés de buscarmos lidar com isso:

A sombra – Pitty

Pra quê dissimular?
Se ela me segue aonde quer que eu vá?
Melhor encarar
E aprender com ela a caminhar
Não vou mais negar
Por todo caminho, minha sombra está
Eu quero saber me querer
Com toda a beleza e abominação
Que há em mim
Isso nunca se desfaz
E quanto a desejo, não há paz
(...)


Obs: Quando comecei a escrever esse pensamento, não parti da música “ A sombra” da Pitty, mas ao desenvolvê-lo percebi que a influência desta estava sendo determinante. Permite-me então deixar essa influência rolar, evidenciada mais uma vez pelo trecho de Dostoiévski que também serviu a música 8 ou 80 da mesma. Mesmo com o medo de ter perdido minha identidade, acredito que boas referências são sempre válidas, e me vejo totalmente no que escrevi.
To Be Continued... xD
Gabriel T.

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