quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Nem carne, nem mente, nem alma




Meus olhos não alcançam o mundo da fantasia,
Minha mente desistiu de tentar se enganar,
Minha alma nem se vendeu, nem evoluiu,
Meu coração não consegue sofrer e revigorar.

Desacreditado do meu próprio ceticismo,
A vida desmistificada sem ser compreendida,
A dor insensível, pois inexistente,
Não há euforia, não há desejo ardente.

O deja vu constante encontrará seu fim,
A vida há de me bater e despertar,
Ou esperarei que você me contagie.
Assim descubrirei meu céu, seu mel, nosso mar.


Gabriel T.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Alianças

Algo está fora do lugar,
A vontade está em dúvida,
As águas inverteram seu fluxo,
A antena está desligada.

Os anéis foram entrelaçados,
A eternidade sendo reafirmada,
O ouro descoberto,
O plástico descartado.

A TV progressivamente religada,
O elo vai se enfraquecendo,
O óbvio virá à tona,
A sombra se esconderá.

As bênçãos romperam-se,
Os pecados converteram-se,
Os acertos ignoraram-se,
O eterno se relativizou.

Novos vínculos virão,
Com alguns acertos do passado,
Novos erros do amanhã,
Com toda a instabilidade do mundo.

Gabriel T.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Naquela noite

.

No bar,
Um alívio para a solidão,
Mais um copo contra a compaixão pedi.
Corroído pela angústia, uma dose de pinga refrescava.

Veio a mim uma jovem,
Insossa para quem não podia enxergar
Toda sua inocência vulgar.
Simplesmente, Bárbara.

Cabelos ruivos ao vento,
Olhar pneumático e tentador,
Boca volumosa e quente,
Decote chamativo e encorajador.

A cada gole o encanto crescia,
2 garrafas de Aguardente Santa Volúpia.
Já estava bêbado para a partida...
Não sem a sua companhia.

O que aconteceu depois:
A bebida me censurou.
O que restou da memória entorpecida:
O cheiro do cigarro e perfume que trazia,
A minha casa roubada e destruída,
E uma dor de cabeça filha da **** durante dias.

Gabriel T.

sábado, 7 de novembro de 2009

Observas tu no espelho

Bons tempos aqueles,
A fumaça do baseado te elevava,
O amor ainda reluzia e em dor, ainda sorria.
Agora só te permites vagar em seu casulo;
Seu reflexo, o limite. Sua vida, um ponto esperando o final.

Sujo, vago, seco, duro;
Sinto-te anestesiado,
Imóvel, inerte, limitado;
Encalhado ao óbvio, impossibilitado do além.
Pobre de ti, a fuligem das fábricas entrevaram tuas engrenagens!

Observas tu,
Como se o vazio do mundo te tomasse,
Adentrasse tua alma agora efusiva,
Tornaste o que condenavas,
Vítima da razão, escravo da visão.

Permita-te se renovar sobretudo.
Encara-te no espelho, e depois desafie o mundo!

domingo, 1 de novembro de 2009

"Inexpressão"

Inexpressão

Pensamentos caem em um fluxo acelerado e inconstante,
A razão sobrevoa por meus sentimentos e sensações,
Verdades se deslocam, se misturam, se invertem, se negam.
O ar inspirado já não é límpido e inocente.
Todo tipo de disfarce se extirpe em prol da verdade inconsequente.
O poeta ametaforado nem pode mais fazer sua arte (se é que ele já pôde!).

Tudo parece tão cético, tão óbvio, tão programado
Tudo parece tão natural, tão chato, tão repetitivo...
Falta drama, paixão, ilusão, emoção, tesão,
Falta alegria, arrepio, encantamento, tentação,
Falta tudo que nos faz vivo,
Como queria sentir dor!

A causalidade foi desvendada,
O futuro é produto de um cálculo exato.
O sexo, simples exteriorização de movimentos mecânicos.
O sentido da vida se limita ao nascer e morrer.
A doença, o fato que mais nos aproxima da vida.
A melancolia das palavras não pode ser sentida,
O desabafo aparente não passa de uma demonstração do óbvio.


Gabriel T.